30.9.08

meu poço




centenas de anos passaram nas águas barrentas do poço da estrada

outras tantas gentes o abriram. destruíram. puseram de pé

milhares de vezes desceu e subiu o balde de barro ou madeira. depois de latão

beberam as cabras. beberam crianças. peregrinos. cavaleiros ricos

de passagem breve baixo ao sol escaldante que não escolhe a quem

massacrar os ossos. ressecar a pele. invadir a boca de pó cor de sangue


centenas de anos passaram nas águas. milhares de galões saltaram das bilhas

para os lábios escaldados. o poço lá está. modesto. de barro. amassado à mão

desfeito e refeito. testemunha antiga de vidas passadas

da minha também sabe ele alegrias descidas correntes por montes até

chegar junto dele. namoros escondidos. amores proibidos. tantas vidas outras.

nunca as contará.



foto de J. Le Montagner