
centenas de anos passaram nas águas barrentas do poço da estrada
outras tantas gentes o abriram. destruíram. puseram de pé
milhares de vezes desceu e subiu o balde de barro ou madeira. depois de latão
beberam as cabras. beberam crianças. peregrinos. cavaleiros ricos
de passagem breve baixo ao sol escaldante que não escolhe a quem
massacrar os ossos. ressecar a pele. invadir a boca de pó cor de sangue
centenas de anos passaram nas águas. milhares de galões saltaram das bilhas
para os lábios escaldados. o poço lá está. modesto. de barro. amassado à mão
desfeito e refeito. testemunha antiga de vidas passadas
da minha também sabe ele alegrias descidas correntes por montes até
chegar junto dele. namoros escondidos. amores proibidos. tantas vidas outras.
nunca as contará.
foto de J. Le Montagner